Depoimento Francisco Ludovico

 

A Faculdade de Medicina de Goiás *
DEPOIMENTO DO PROFESSOR FRANCISCO LUDOVICO DE ALMEIDA NETO
Fundador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Diretor de 1958 a 1968
Professor Emérito da Faculdade de Medicina

Os Anos de Trabalho e Espera

Ao voltar para Goiânia, em 1951, após graduar em Medicina em 1950 na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Praia Vermelha) verifiquei que já era chegada a hora de cumprir aquilo a que me tinha proposto: a fundação de uma Faculdade de Medicina em Goiás.
Com a Associação Médica já fundada e operante, tendo na presidência e diretoria homens capazes, em reunião do dia 10 de abril de 1953, na sede que funcionava no Centro de Saúde situada em frente à Santa Casa, propus a designação de uma comissão para iniciar os estudos para a implantação de uma Faculdade de Medicina em Goiânia.
Como era essa, também, a aspiração de todos os médicos que ali se encontravam, não tive dificuldades para que a idéia fosse aceita. No mesmo dia foi constituída a comissão da qual participavam os Drs. Francisco Pilomia de Sousa, Rodovalho Mendes Domenici e eu. Foi escolhido o meu nome para presidi-la.
Foram realizadas inúmeras reuniões procurando equacionar pontos polêmicos do relatório por mim apresentado à Associação Médica, por ocasião da constituição da comissão.
* Dados extraídos do livro "A Faculdade de Medicina de Goiás", de autoria do Prof. Francisco Ludovico de Almeida Neto, pelo Prof. Dr. Celmo Celeno Porto.
As idéias foram amadurecendo.
A comissão se reunia com frequência. Procurei, como Presidente, orientação no décimo-terceiro andar do prédio do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, onde estava implantada a Diretoria Geral do Ensino superior, tendo como diretor o "Superministro" Prof. Jurandir Lodi.
Ali fui informado de que a sequência do pedido de autorização para o funcionamento de um curso superior seria a seguinte:
1- Relatório mostrando as reais possibilidades do Estado de Goiás e a necessidade de uma Faculdade de Medicina.
2 - Demonstração da capacidade financeira para o custeio do curso.
3 - Entidade caracterizada como uma fundação, apresentando os recursos fundamentais para garantia das instalações e funcionamento regular do curso médico.
4 - Possibilidade do corpo docente com títulos suficientes para ser aprovado.
Continuando os estudos, procuramos conhecer a atuação das Faculdades de Medicina de Cáli e Medellín, na Colômbia, patrocinadas pela Fundação Rockefeller, e também a Faculdade de Medicina da Universidade Litoral do México, o que muito nos ajudou a aperfeiçoar a nossa programação.
Procuramos cumprir todas as exigências do Ministério da Educação, com cuidados especiais, além de procurar divulgar a pretensão dos médicos goianos no sentido da criação da Faculdade de Medicina a fim de atrair simpatizantes para a nossa causa. Apoio do povo e do Governo não nos faltaram, graças a Deus. Tínhamos o respaldo da Igreja, dos jornais, do Rotary Clube de Goiânia e do rádio.
No I Congresso da Associação Médica Brasileira, realizado em Ribeirão Preto, São Paulo, de 23 a 27 de outubro de 1956, como parte integrante da comemoração do primeiro centenário daquela cidade, apresentei o trabalho "Ensino Médico e Assistência Médica Rural". A primeira parte já era o projeto para a criação, fundação e instalação de uma Faculdade de Medicina em Goiás, a partir de dados concretos da situação em que se encontrava o Estado com relação à assistência médica.
Não somente mostrava os problemas, mas, o mais importante, apontava a solução através da criação de uma Faculdade de Medicina, em cujo currículo constava a exigência da permanência do recém-formado passar um ano atendendo nas cidades e distritos onde não existisse médico atuando.
Essa exigência fazia com que o médico se tornasse mais maduro, mais corajoso, além de sentir que estava devolvendo, em trabalho digno, o que a sociedade havia gasto para a sua formação. Desde o início da idéia de uma Faculdade de Medicina em Goiás, o pensamento foi de uma Instituição com ensino gratuito, como se pode ver do Projeto que é mostrado em seguida.


PROJETO PARA UMA FACULDADE DE MEDICINA EM GOIÁS


A Faculdade de Medicina de Goiás deveria ter as seguintes características:
- Ensino gratuito
- Direcionamento do curso, segundo normas da Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação, para formar médicos generalistas, estimulando especializações em programas especiais de residência médica;
- Ênfase nas patologias dominantes no Estado de Goiás, visando atingir, no futuro, os Municípios sem médicos e as periferias das cidades maiores.
Dentro desta filosofia, procuramos atingir dois objetivos:
1.° - Conseguir das Prefeituras, do Governo do Estado e do Governo Federal, através dos órgãos do Ministério da Saúde, contribuição para formação de médicos (manutenção do curso).
2.° - Criar nos jovens aprovados para freqüentar a Faculdade o sentido da responsabilidade social e mostrar que estudo gratuito só é possível com recursos gerados pela população, que, direta ou indireta, paga seus impostos. Por isso, todos que se beneficiam com a gratuidade devem, de forma direta, retribuir com trabalho dentro de um planejamento envolvendo a Faculdade de Medicina, pelo período de um ano.
A Faculdade deveria priorizar o social, não estar direcionada para privilegiar grupos de jovens, mas, sim, construir com eles uma estrutura consistente de trabalho no campo social e profissional.

A Arrancada Final
Tendo sido protocolado o processo no Ministério da Educação em março de 1959, somente em 18 de abril do mesmo ano a Comissão de Ensino Médico da Associação Médica de Goiás pôde convocar uma reunião na sede do Jóquei Clube de Goiás para fundar uma sociedade civil, sem fins lucrativos, com característica de uma fundação, que seria responsável pela Faculdade de Medicina.
Nesta memorável reunião foram aprovados os Estatutos da SOCIEDADE FACULDADE DE MEDICINA DE GOIÁS e, também, sua primeira Diretoria, que ficou assim constituída:
Presidente: Dr. Altamiro de Moura Pacheco, secretário: Dr. Hélio de Araújo Lobo, tesoureiro: Dr. Rodovalho Mendes Domenici.
O Presidente, com aprovação dos membros da Diretoria e do plenário, designou-me Diretor da nova Faculdade de Medicina de Goiás.
Aqui, em Goiânia, os membros da Diretoria da Sociedade Faculdade de Medicina de Goiás desenvolveram brilhante trabalho, para caracterizarem legalmente as doações feitas pelo Estado e outros bens e fontes de rendas necessários para garantir o patrimônio e recursos para o início do funcionamento da Faculdade.
Enquanto isso, o Diretor se preocupava com o ritual de acompanhamento do processo nos diversos órgãos da Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação, que era de uma exigência quase absoluta.
Quando terminamos o acompanhamento nas diversas Comissões Especiais, foi ele encaminhado ao Conselho Superior de Educação, constituído por pessoas que representavam a elite do ensino superior no Brasil, quase sempre indicadas como prêmio por serviços especiais prestados e antiguidade. Essa comissão se reunia somente uma vez por mês e sempre na última semana.
O processo chegou ao Conselho em junho de 1959, tendo levado até outubro para ser inscrito em pauta regular de reunião do Conselho Superior de Educação. Finalmente, foi indicado o Professor Otto Bier, da Universidade de São Paulo, como relator, do processo..
Até o mês de dezembro, ele não havia devolvido o processo. Pedi, então, ajuda ao Prof. Paulo da Silva Lacaz, que tinha sido meu professor de Bioquímica, na Faculdade da Praia Vermelha, e que já havia me ajudado na formação do futuro corpo docente nas cadeiras básicas, para interceder junto ao Prof. Carlos da Silva Lacaz, seu irmão, que, tendo acesso ao professor Otto Bier, poderia conseguir que ele fizesse o relato do processo da Faculdade de Medicina de Goiás. Com essa interferência positiva, em dezembro o relatório foi apresentado em plenário, mas infelizmente, naquele mês, não houve o quorum exigido para aprovação de funcionamento de novas Faculdades (dois terços).
O Conselho Superior da Educação era formado por alguns membros que não residiam no Rio de Janeiro. Como, para liberação de curso superior, era necessário de mais de dois terços de seus membros, passou a ser missão quase impossível contar com este número de professores na reunião em dezembro (mês de férias, Natal), o que de fato aconteceu.
Em 12 fevereiro de 1960, através do Parecer n.° 27, a Comissão do Ensino Superior do Ministério de Educação aprovou a relação de dezesseis professores para a futura Faculdade de Medicina de Goiás.
1. Prof. Javier Puig Serra - Histologia e Embriologia.
2. Prof. José Salum - Bioquímica.
3. Prof. Jarbas Doles - Anatomia Patológica.
4. Prof. William Barbosa - Propedêutica Médica.
5. Prof. Jorge Guanaes Dourado - Tisiologia e Pneumologia.
6. Prof. Francisco Ludovico de Almeida Neto - Cirurgia Experimental.
7. Prof. Luiz Rassi - Clínica Cirúrgica.
8. Prof. Jonas Aiube - Pediatria e Puericultura.
9. Prof. Georthon Rodrigues Philocreon - Ginecologia.
10. Prof. Geraldo Pedra - Ortopedia e Traumatologia
11. Prof. Francisco Ayres - Oftalmologia.
12. Prof. Manoel dos Reis e Silva - Otorrinolaringologia.
13. Prof. Osvaldo Vilela Garcia - Fisiologia.
14. Prof. Alfredo Paes - Neurologia.
15. Prof. Geraldo Brasil - Psiquiatria.
16. Prof. Benedito Soares de Camargo Júnior - Medicina Legal e do Trabalho.


Março era o limite de tempo para obter a autorização do Conselho Superior de Educação pois o ano letivo iniciava-se nesse mês. Mas resolvemos lutar. Juntamente com os goianos que moravam no Rio de Janeiro, a maioria pertencente à Associação Goiana, traçamos uma estratégia para conseguir o quórum necessário.
Sabendo o nome dos membros do Conselho que residiam naquela cidade, deixamos um goiano na porta da casa de cada conselheiro, com um táxi á disposição, a fim de garantir sua presença na reunião.
Era necessário também garantir a presença do Prof. Otto Bier, mas, para tanto, precisava contar, mais uma vez, com a boa vontade do professor Carlos da Silva Lacaz, que não falhou na empreitada.
Sabia que D. Hélder Câmara era membro do Conselho. Aqui, em Goiânia, tinha procurado o Arcebispo de Goiás, D. Fernando Gomes dos Santos. Quando lhe contei tudo que se passava, pedi a ele ajuda para não deixar D. Hélder faltar à reunião D. Fernando prometeu comunicar-se com D. Hélder, solicitando sua ajuda no sentido de facilitar a aprovação da Faculdade de Medicina de Goiás pelo Conselho Superior de Educação.
A reunião iria iniciar-se às 14h30min, de uma segunda-feira, na última semana de março. Já eram 13h30mim, e não havia confirmação da presença de D. Hélder. Fui, então, ao Palácio São Joaquim, apresentei-me, na portaria, como D. Fernando, Arcebispo de Goiás, e disse que desejava falar com D. Hélder. Fui recebido de imediato e vi a expressão de espanto de D. Hélder, ao ver que não se tratava de D. Fernando.
Apresentei-me, pedi desculpas pelo expediente usado, mas lhe contei que estava autorizado por D. Fernando para agir no sentido de que ele, D. Hélder, não deixasse de comparecer à reunião do Conselho que ia realizar-se naquela hora. Fui além e disse-lhe, também, que o seu não-comparecimento iria deixar D. Fernando muito mal, porque a não-aprovação da autorização de funcionamento da Faculdade seria conseqüência da falta de prestigio de D. Fernando junto a D. Hélder. Ele riu bastante e foi comigo, de táxi, até o Ministério da Educação, atuando decididamente na aprovação da Faculdade de Medicina de Goiânia pelo Conselho, Superior de Educação.
Parecia decidida a batalha, com a vitória para todos aqueles que lutaram pela instalação da Faculdade de Medicina de Goiás.
Procurei o Prof. Jurandir Lodi, no seu gabinete, logo após terminada a reunião. Ele já sabia da aprovação, mas foi taxativo: "Já estamos no final de março. Não há mais tempo hábil para fazer o vestibular, e não vou iniciar uma faculdade estabelecendo calendário especial."
Era o balde de água fria nas nossas pretensões... Mas, assim mesmo, continuei a luta. À noite, liguei para meu Pai, pedindo que localizasse o Presidente Juscelino Kubitschek, porque somente ele poderia alterar a resolução do Dr. Jurandir Lodi, diretor do Ensino Superior do Ministério da Educação.
Meu pai conseguiu localizar o Presidente em Brasília; ele ficaria lá por dois dias e poderia receber-me no outro dia, às 18 horas. Consegui lugar em avião militar até Brasília e, às 18 horas, fui recebido pelo Presidente no Catetinho.
O Presidente Juscelino assim se expressou : "- Conheço bem o Jurandir. Ele é, realmente, um é casca-de-ferida."
Mandou seu secretario bater um documento dizendo ser eu assessor da Presidência da Republica para o Ensino Superior e deu o número de seu telefone direto no Catete, marcando para eu ligar do gabinete do Prof. Jurandir às 16 horas do dia seguinte. Ele viajaria para a Rio nesse dia logo cedo, mandando, também, que se reservasse para mim lugar em avião militar, se possível, naquela mesma noite ou pela manhã do dia seguinte..
Viajei ao Rio pela manhã. Fui ao Ministério da Educação e me apresentei com a credencial de assessor da Presidência da República, sendo recebido imediatamente pelo Prof. Jurandir, que, quando me viu, exclamou: "-Você outra vez!?" Pediu para esperar,pois estava terminando uma reunião com Reitores do Nordeste.
Às 16 horas pedi à secretária para telefonar. Fiz a ligação, que foi atendida diretamente pelo Presidente Juscelino. Identifiquei-me, e ele disse literalmente: "- Coloque esse chato na linha." Chamei o Professor Jurandir, dizendo que o Presidente desejava falar com ele, e ele perguntou: "- Que Presidente?" E eu lhe respondi que era o Presidente da República. Ele atendeu, e a única coisa que o ouvi dizer, foi: "Sim, Sr. Presidente." Nesse dia saí com a autorização para a realização do vestibular em calendário especial.
No dia 7 de abril de 1960, foi assinado pelo Presidente Juscelino o Decreto n.° 48.061, autorizando o funcionamento da Faculdade de Medicina de Goiás.
O Ministério da Educação fixou calendário especial para as inscrições ao vestibular, que foi de 8 a 11 de abril. As provas foram realizadas de 18 a 20 de abril, com inicio das aulas no dia 24, porque o dia 21 coincidia com a inauguração de Brasília.
Tivemos 179 inscritos ao vestibular, que se realizou na data prevista, nas salas do Lyceu de Goiânia, com a seguinte banca examinadora:
QUIMICA: Professor Paulo da Silva Lacaz; Dr. José Braz Cesarino Neto; Dr. Puig Serra.
FÍSICA: Professor Lafaiete Rodrigues Pereira; Dr. José Vital Sócrates; Dr. Francisco Ayres.
BIOLOGIA: Professor Tales Oliveira Dias; Dr. José Peixoto da Silveira; Dr. Geraldo Pedra.
Os professores Paulo da Silva Lacaz, Lafaiete Rodrigues Pereira e Tales de Oliveira Dias vieram do Rio de Janeiro, como convidados especiais para presidirem as bancas examinadoras do primeiro vestibular, por especial atenção minha para com eles e para com a Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, onde lecionavam. Eles haviam feito parte da banca examinadora do vestibular de 1945, quando o Dr. Joffre Marcondes de Rezende e eu fomos aprovados para iniciar o curso de Medicina. Além disso, o Professor Paulo da Silva Lacaz foi grande orientador na estruturação das cadeiras básicas da Faculdade de Medicina de Goiás. Seu espírito de colaboração chegou ao ponto de liberar seu auxiliar, o Livre-Docente em Bioquímica, Professor José Salum, para vir lecionar na nova Faculdade.
O professor Paulo Lacaz não viajava de avião. De modo que ele e seus companheiros tiveram de viajar de trem, pela Central do Brasil, do Rio a São Paulo e, depois, pela Paulista, até Barretos. Fui em meu carro esperá-los naquela cidade para, em seguida, trazê-los a Goiânia.
Lembrar hoje dessa viagem e do retorno a Barretos me traz momentos de emoção e ternura pelo carinho e dedicação de pessoas absolutamente desinteressadas, de total desprendimento, que serviam por amizade e a uma causa. A vinda deles a Goiânia nada custou à Faculdade de Medicina. Enfrentaram desconforto sem perder a alegria. Confiavam no bom início do ensino médico em Goiás, com a participação de ex-alunos seus. Foram tempos e momentos inesquecíveis.

SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO

A solenidade de inauguração da Faculdade de Medicina de Goiás aconteceu no Instituto de Educação de Goiás, no dia 24 de abril de 1960. Eu pretendia que fosse no dia 14, porque era o dia do aniversário de minha Mãe, e queria dar a ela esse presente. Mas não foi possível. Ela compareceu à aula inaugural, que foi proferida pelo Dr. Àtila Gomes de Carvalho, Diretor do Departamento de Endemias Rurais (DNERu) e pessoa que muito nos auxiliou na montagem do Laboratório de Histologia Depois da aula, houve uma missa na porta da Faculdade.
Foram aprovados 33 candidatos, e não 30, conforme o número de vagas definidas no edital, porque as bancas examinadoras reunidas avaliaram que, pelas provas, 33 candidatos tinham condições de ser aprovados, mas o assunto só poderia ser resolvido pela direção da Faculdade. Fui chamado, tomei conhecimento do fato e sugeri, como solução, igualar as notas dos quatro últimos. Assim faríamos justiça aos jovens - que, confesso, não conhecia à época -, e o número registrado no edital do vestibular não seria violentado. Foi uma atitude "meio salomônica", aprovada pelas bancas examinadoras, da qual nunca me arrependi. Registro também que jamais fiz chegar aos três candidatos beneficiados esta resolução. Sempre os considerei integrados em absoluta igualdade à turma, que deixou de ser de 33 alunos devido ao fato de Ernane Soares, um dos aprovados, não ter se matriculado por ter sido aprovado em outro vestibular. Quis o destino que a turma voltasse a ter 33 alunos, com a incorporação, na 3.ª série, de Cláudia Lúcia Carneiro, transferida de Uberaba e aceita pelos colegas. A primeira turma foi a ponta-de-lança do desenvolvimento da nova escola. Trinta e três é para mim um número cabalístico: é o número de anos vivido por Cristo e representa não apenas dor, mas caracteriza lutas e conquistas.
Por dever de justiça, desejo estender toda a manifestação de carinho a todos que possibilitaram o funcionamento desta Faculdade, desde aqueles momentos iniciais e, depois, já na Universidade. O meu nome aparece em destaque pelo fato de ser eu filho do Governador à época e representá-lo para essa missão. Mas nunca usei essa prerrogativa em meu benefício e jamais julguei ser mais bem qualificado que meus companheiros, por ter sido o responsável pela fundação da Faculdade. Muitos nos ajudaram. É difícil nominá-los em sua totalidade. Lembramos: Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira; Governadores José Ludovico de Almeida e José Feliciano Ferreira; Deputado Gérson de Castro Costa; os Professores Paulo da Silva Lacaz, Carlos da Silva Lacaz, Liberato Di Dio e Zeferino Vaz; Dr. José Peixoto da Silveira; Associação Médica de Goiás; e todos os médicos que se constituíram em nossos professores e nossos funcionários.
A comissão encarregada de proceder á classificação dos títulos dos interessados nas diversas cadeiras, procurando atender ás exigências do Ministério da Educação quanto à constituição do corpo docente, foi composta pelos Professores Agnelo Fleury, Lopes Cançado, Ernani Cabral e Dr. José Peixoto da Silveira, que, sob a coordenação do Diretor da Faculdade, concluiu seu trabalho no dia 06 de julho de 1959. Os nomes dos professores selecionados foram encaminhados ao Ministério da Educação, numa relação que passou a integrar o processo de fundação da Faculdade de Medicina de Goiás.
O patrimônio principal da futura Faculdade está no Setor Universitário, onde se localiza o Hospital Geral, que estava incluído na doação feita pelo Estado de Goiás, que doou também 2,5 milhões de cruzeiros em bônus do Estado, que renderam dividendos. Houve também a proposta orçamentária para o ano de 1960 de 5 milhões de cruzeiros, feito pelo Deputado Federal Gérson de Castro, inserida no orçamento daquele ano. Além disso, a adaptação do hospital e a construção do pavilhão de Anatomia, Bioquímica, Embriologia e Histologia e duas salas de aulas foram realizadas pelo Governo do Estado. Contamos com a participação do Governo de José Ludovico de Almeida e posteriormente do Governo de José Feliciano Ferreira. O pessoal administrativo foi conseguido também com a ajuda do Governador do Estado, que colocou à disposição da Diretoria da Faculdade os funcionários: D. Iná Campos (secretária), Geraldo de Queiroz Barreto e Heleni Viana, como auxiliar de secretária.
Os professores das cadeiras básicas já estavam indicados e seus currículos aprovados, com aval dos Professores Baeta Viana e Liberato Di Dio, Zeferino Vaz e Paulo de Silva Lacaz.

PRIMEIRA TURMA

Dia 11 de dezembro de 1965, realizou-se a solenidade de colação de grau da primeira turma de formandos da Faculdade de Medicina da UFG: Adalberto Cavarsan, Ademar Gomes da Costa, Ali Said Esgaib, Americano Guimarães Rosa, Ary Monteiro do Espírito Santo, Cláudia Lúcia Carneiro, Divino Evangelista da Rocha, Djalma Rodrigues de Souza, Emy Divina Rezende e Silva, Filemon de Castro, Flávio Aluízio Xavier Cançado, Joaquim Borges de Menezes, Laudelino Dias Pinheiro, Luzia Ferreira Rosa, Marco Antônio de Castro, Mario Gerard Bufutto, Nélson de Azevedo Paes Barreto, Otoniel Machado Carneiro, Paulo Cezar Borges, Pedro de Oliveira Mundim, Ricardo Luiz Toledo Piza, Roberto Felipe Zacarias, Ruben Rodrigues Dantas, Ruy Ignácio Carneiro, Salah Daud, Sylvio Saccomani, Saul Leão Couto, Trajano César de Lacerda, Ubiratan Gonçalves de Araújo, Valteno Alves Ribeiro, Wagner José Mendes, Walfredo Zupelli e Wanderley de Oliveira e Silva.
Uma vitória. Formar nossa primeira turma era colher os resultados de vários anos de esforços, esforços que se renovavam dia a dia, instante a instante, com os desafios com que nos defrontávamos continuamente.
O patrono da turma foi o Dr. Altamiro de Moura Pacheco. Como paraninfo, pronunciei o discurso que, embalando-me na emoção daquela noite memorável, reproduzo a seguir.

DATAS IMPORTANTES E DADOS ESTATÍSTICOS

Criação da Faculdade de Medicina
1 - A reunião da Associação Médica de Goiás, realizada no dia 10 de Abril de 1953, é o marco inicial, em que se lançou a semente para a criação da Faculdade de Medicina.
2 - Reunião de fundação da Entidade Mantenedora, em 18 de abril de 1959. Aprovação dos Estatutos e eleição da Diretoria - Presidente: Dr. Altamiro de Moura Pacheco; Secretário: Dr. Hélio Lobo; Tesoureiro: Dr. Rodovalho Mendes Domenici. - Publicado no Diário Oficial do Estado de Goiás, n. ° 8.043, de 3 de maio de 1959. Designação do primeiro Diretor: Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto.
3 - Pelo Decreto n.° 48.061, de 7 de abril de 1960, é concedida autorização para o funcionamento do Curso de Medicina. O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o Artigo 87, Item I, da Constituição, e nos termos do Artigo 23 do Decreto-Lei n.° 421, de 11 de maio de 1938, decreta:
Artigo único - É concedida autorização para o funcionamento do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Goiás, mantida pela Sociedade Civil Faculdade de Medicina de Goiás, com sede em Goiânia, no Estado de Goiás.
Rio de Janeiro, 7 de abril de 1960; 138.° da Independência e 72.° da República.
Juscelino Kubitschek
Clóvis Salgado
Publicado no Diário Oficial da União, de 11 de junho de 1960.
4.° - Dia 24 de abril de 1960 acontece a aula inaugural, ministrada pelo Dr. Àtila Gomes de Carvalho, diretor do Departamento Nacional de Endemias Rurais.
5.° - Criação da Universidade Federal de Goiás, pela Lei n.° 3.834-C, de 14 de dezembro de 1960, que absorveu a Faculdade de Medicina.
7.º - 13 de março de 1961: eleição, em lista dúplice, para a escolha do primeiro diretor da Faculdade de Medicina da UFG:
1.º lugar: Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto
2.º lugar: Dr. Sales Jesuíno de Souza
8.° - Março de 1962: inauguração do Hospital das Clínicas e início das atividades dos Departamentos Clínicos.
9.º - 24 de outubro de 1964: eleição, em lista tríplice, para a escolha do diretor da Faculdade de Medicina:
1.º lugar: Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto
2.º lugar: Dr. Sales Jesuíno de Souza
3.º lugar: Dr. Raul Conde.
10.º - 30 de novembro de 1964: posse do Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto na Diretoria da Faculdade de Medicina (2.° mandato).
11.º - 9 de novembro de 1965: aprovação do Regimento pelo Conselho Federal de Educação, considerando-o adaptado à Lei n.º 4.464, de 9 de novembro de 1964.
12.º - 11 de dezembro de 1965: colação de grau da primeira turma de médicos da Faculdade de Medicina de UFG.
13.º- 8 de setembro de 1966: encaminhamento do primeiro pedido de reconhecimento da Faculdade pelo Conselho Federal de Educação, Protocolo n.º 47.965/66, por solicitação da Diretoria do ensino Superior do MEC.
14.º - 14 de dezembro de 1966: colação de grau da segunda turma de médicos da Faculdade de Medicina da UFG.
15.º - 16 de maio de 1967: elaboração do Parecer pela Comissão Verificadora designada pela Diretoria do Ensino Superior do MEC. Componentes: Prof. Oscar Versiani Caldeira, Dr. Epílogo Gonçalves Campos, Dr. Adherbal de Andrade Câmara.
- Processo n.º 38.360, de 1.º de junho de 1967.
16.º - 15 de dezembro de 1967: colação de grau da terceira turma de médicos da Faculdade de Medicina da UFG.
17.º - 9 de outobro de 1967: eleição, em lista tríplice, para a escolha do Diretor da Faculdade de Medicina da UFG:
1.º lugar: Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto
2.º lugar: Dr. Luiz Rassi
3.º lugar: Dr. Jarbas Doles.
18.º - Posse da nova Diretoria do Hospital das Clínicas e início das atividades do Conselho Diretor em 15 de janeiro de 1968:
Diretor do Hospital: Dr. Jorge Guanaes Dourado
Conselho Diretor: Dr. Francisco Ludovico de A. Neto (presidente)
Dr. Luiz Rassi
Dr. Joffre Marcondes de Rezende
Dr. Georthon Rodrigues Philocreon
Dr. Aluízio Ramos de Oliveira
Dr. Rubens Ferreira de Moraes.
19.º - Pelo Decreto n.º 62.376, de 11 de março de 1968, dá-se o reconhecimento da Faculdade de Medicina da UFG. Publicado no Diário Oficial de 14 de março de 1968.
20.º - Em junho de 1968, é celebrado Convênio entre a OSEGO e a Prefeitura de Goiânia para o funcionamento do Pronto- Socorro (nova fase).

DADOS ESTATÍSTICOS DE 1960 A 1966.

Ano
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
Corpo Docente
5
15
36
73
103
118
115
120
135
Alunos Matriculados
33
61
127
168
247
296
319
391
404
Servidores
5
11
19
34
35
41
52
70
75



PATRIMÔNIO DA FACULDADE (1968):

1- Área do terreno onde se localiza a Faculdade e o seu Hospital das Clínicas: 58.052m² . Valor aproximado estimativo ................................
...................................................................................NCr$ 11.610.400,00
2- Total de área construída (1968):
a) Cadeiras básicas e Hospital das Clínicas:
8.320,33m ²
Total da área construída pela UFG:
3.808,33m ²

PRIMEIROS CONCURSOS DE DOUTORAMENTO E LIVRE-DOCÊNCIA

1 - 17 de novembro de 1967: defesa de Tese de Doutoramento pelo Dr. Aluízio Ramos de Oliveira, com a Tese " Considerações sobre a Inexistência da Megagastria e da Acalasia do Piloro na moléstia de Chagas".
2 - 23 de novembro de 1967: defesa de Tese de Doutoramento da Dr.ª Marília dos Santos Ayres, com "Estudo comparativo entre Aplanotonometria de Goldmann e Maklakov e Confronto dos Resultados da Tonometria de Aplanação e de Impressão".
3 - Dias 23, 24 e 25 de novembro de 1967: concurso de Livre-Docência do Dr. Francisco Ayres, com a Tese "Contribuição ao Estudo Clínico das Discromatopsias Adquiridas no Glaucoma".
4 - 20 de novembro de 1967: defesa de Tese de Doutoramento pelo Dr. Roberto Ruhman Daher, com "Enzimas no Diagnóstico das Hepatopatias - Determinação de doze Enzimas no Soro Sanguíneo de Pacientes com Enfermidades Hepáticas".
5 - Dias 15, 15 e 16 de março de 1968: concurso de Livre-Docência do Dr. William Barbosa, com a Tese: "Blastomicose Sul-Americana - Contribuição ao Seu Estudo no Estado de Goiás".
6 - Dia 15 de março de 1968: defesa de Tese de Doutoramento pelo Dr. Custódio dos Reis e Souza, com " A Metoclopramida em Cães Vasectomizados (Estudo radiológico)". "


DADOS BIOGRÁFICOS DE FRANCISCO LUDOVICO DE ALMEIDA NETO

Francisco Ludovico de Almeida Neto nasceu em Itaberaí, GO, em 22 de fevereiro de 1927. Filho de José Ludovico de Almeida e Iracema Caldas de Almeida.
- Curso primário: Grupo Escolar Rocha Lima, em Itaberaí.
- Curso ginasial: Colégio Anchieta, em Bonfim (hoje Silvânia), GO (de 1938 a 1940, 1.ª, 2.ª e 3.ª séries), e no Lyceu de Goiânia ( em 1941 e 1942, 4ª e 5.ª séries).
- Em 1945, prestou vestibular na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro; foi aprovado e iniciou o curso, concluindo-o em 1950.
- Atividade acadêmica complementar por concurso: monitor da cadeira de Anatomia Descritiva e Topográfica, nomeado pela Reitoria da Universidade do Brasil ( de 1946 a 1950).
- Auxiliar acadêmico do Serviço de Emergência da Prefeitura do Rio de Janeiro (em 1949 e 1950).
- Auxiliar acadêmico do Serviço de Emergência da Prefeitura do Rio de Janeiro (em 1949 e 1950).
- Atuação acadêmica na cadeira de Técnica Operatória e nos cursos livres de Neurologia do Professor Antônio Austregésilo Filho, respondendo pelas aulas de Anatomia do Sistema Nervoso.
- Em 1951 e 1952, continuou sua formação médica no Rio de Janeiro em Cirurgia Geral, com o Professor Josias de Freitas, e preparou-se em Medicina Clínica e outras especialidades, para atuar como médico em Goiânia, a partir de 1952.
- De 1953 a 1958, foi professor interino de Medicina Legal da Faculdade de Direito de Goiás (com preparo no Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro, Instituto Nina Rodrigues, de Salvador, BA, e no Instituto Oscar Freire, em São Paulo).
- Idealizador e fundador da Faculdade de Medicina de Goiás, que dirigiu de 1959 a 1968.
- Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.
- Professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFG.
- Membro fundador da Academia Goiana de Medicina.
- Membro da Academia Brasileira de Administração Hospitalar.
- Fundador e diretor da Clínica Santa Genoveva, em Goiânia