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Docentes participam de oficina de avaliação do estudante

    Quarenta e cinco docentes da Faculdade de Medicina e de outras unidades da área médica da Universidade Federal de Goiás  participaram  no último dia 10 deste mês de junho da Oficina de Desenvolvimento Docente sobre métodos de avaliação dos estudantes, ministrada pelo professor doutor  Luiz Ernesto Troncon, da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto), especialista em técnicas de avaliação aplicada.

    Quarenta e cinco docentes da Faculdade de Medicina e de outras unidades da área médica da Universidade Federal de Goiás  participaram  no último dia 10 deste mês de junho da Oficina de Desenvolvimento Docente sobre métodos de avaliação dos estudantes, ministrada pelo professor doutor  Luiz Ernesto Troncon, da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto),   especialista em técnicas de avaliação aplicada.  O evento foi promovido pela Coordenação de Curso da FM/UFG, com o objetivo de  conhecer e aplicar métodos de avaliação formativa e somativa às competências a serem desenvolvidas no novo Projeto Pedagógico da Faculdade.

    O ministrante  da Oficina, Professor Luiz Ernesto Troncon, médico endocrinologista,  é titular do Departamento de Clínica Médica da USP Ribeirão Preto e, depois de pós-doutorado na University of Manchester Medical School no Reino Unido, esteve  durante todo o ano de 2014 na mesma universidade inglesa como Visiting Professor. Nesse período, segundo suas próprias palavras, esteve “observando e analisando as práticas  locais de avaliação dos estudantes”.

    A oficina, que teve a duração de um dia inteiro e se iniciou  com a chamada  brain storm – tempestade de ideias  - sobre a palavra Avaliação, foi recheada de vários grupos de reflexão dos participantes sobre os temas abordados. Entre as principais preleções, Conceitos de Avaliação Educacional, Atributos de Qualidades dos Métodos de Avaliação, Significado da Avaliação Formativa (métodos e técnicas efetivas,  Significado da Avaliação Somativa (métodos usuais) e Recomendações Internacionais para Avaliação do Estudante.

    E entre os trabalhos em grupos, uma das ações principais constou de planejar e propor um plano de avaliação de conhecimentos para o módulo como detalhamento dos métodos. E, ainda, planejar e propor um plano de avaliação de habilidades, competências e desempenho.

                             

Opinião do Professor

 Em intervalo da programação da Oficina de Desenvolvimento Docente, o Professor Luiz Ernesto Trocon, perguntado sobre temas  relativos à educação médica, deixou  sua valiosa contribuição, emitindo opinião sobre as seguintes questões:

 

1.Como o senhor vê a educação médica brasileira? Está no caminho certo? Precisa se modernizar? Como?

 

A educação médica brasileira tem evoluído bastante nos últimos anos e as mudanças estão, com certeza, no caminho certo. Minha crítica é que os passos têm sido pequenos e o progresso é ainda lento.

A principal estratégia de fomento, promovida pelas instâncias governamentais, no meu entender, é equivocada, porque foca apenas na formação de "mais médicos" (quantidade), sem se preocupar com a qualidade, que é determinada pelas condições de formação e, sobretudo, pelo número de professores e a qualidade do corpo docente disponível.

No âmbito das escolas médicas já estabelecidas, há movimentos interessantes no sentido de mudar os currículos, programando atividades que coloquem o estudante mais cedo junto às unidades de atenção à saúde, substituindo métodos anacrônicos de ensino por técnicas mais ativas de ensino-aprendizado, conscientizando o estudante das suas responsabilidades com a própria inovação, aumentando o tempo de treinamento do interno nas ações de saúde básica e nos serviços de atenção à saúde mais próximos da comunidade e aprimorando a avaliação do estudante, entre outros.

Infelizmente, estes movimentos têm sido liderados por uma minoria de abnegados que, em função do seu preparo específico na área educacional e nas suas convicções de que a formação precisa melhorar, tem que lutar muito para conseguir pouco, trabalhar mais que os outros e, frequentemente, tem seus esforços pouco valorizados nas escolas.

 

2 A formação médica no Brasil combina com a realidade brasileira?

 

Julgo que a formação médica no Brasil combina apenas parcialmente com a realidade do país, na medida em que precisaríamos ter maior formação de profissionais para atuar na atenção básica à saúde e mais formação em áreas como emergências e saúde mental. A formação em gestão de unidades de saúde e o preparo para trabalho em equipe multiprofissional são também áreas deficitárias. Além disso, se nos restringimos somente à área de formação  na atenção à saúde do indivíduo, o ensino e o treinamento nas habilidades de comunicação e de interação com pacientes e seus familiares é precário na maioria das escolas e há uma tendência preocupante ao declínio do ensino e treinamento nas habilidades de examinar o paciente ("exame físico"). No entanto, há exceções notáveis, como a própria FM-UFG que  é considerada uma referência nacional de excelência neste campo da formação, com destaque para a atuação dos professores do seu Departamento de Clínica Médica.

 

3 - O que na prática é avaliação formativa e avaliação somativa?

 

A avaliação formativa visa utilizar as informações obtidas nos processos avaliativos (observação no dia-a-dia, provas etc) para corrigir as eventuais distorções e deficiências do estudante e também reforçar e otimizar o seu aprendizado, por meio da discussão construtiva dos resultados das avaliações. É praticada pela "devolutiva" ao estudante do que foi observado, fazendo comentários construtivos, em um processo que é denominado em Lingua Inglesa de feedback.

Já a avaliação somativa utiliza as informações obtidas nos processos avaliativos para tomar decisões sobre o progresso do estudante (aprovação. reprovação, recuperação ou remediação), constituindo, portanto, a forma mais praticada e mais tradicional de avaliação do estudante.

 

4 -Existe um pecado maior na educação médica brasileira que deve ser eliminado?

 

Na minha opinião, o pecado maior que deve ser eliminado é a precariedade da formação dos professores e gestores no campo educacional e pedagógico. Isto dificulta a introdução de mudanças e o próprio progresso em termos de implementação de abordagens mais atuais e efetivas. Outro "pecado" igualmente importante, que já mencionei antes, é a pouca valorização dos professores que se dedicam ao aperfeiçoamento da formação do estudante de graduação.

 

5 - E quanto às recomendações internacionais com relação à avaliação do estudante?      Nossas escolas estão dentro ou, pelo menos, próximas do modelo?

 

Esta área é uma das que mais precisam evoluir, pois ainda predomina uma visão tradicional que implica em que as avaliações são focadas muito na dimensão cognitiva (conteúdo, "matéria dada") e pouco nos aspectos mais práticos , por exemplo, a abordagem do paciente, que envolvem as habilidades, competências e atitudes. Há também uma prática predominante de avaliações somativas, "para dar nota", sendo escassa e precária a avaliação formativa, que visa exclusivamente contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional do estudante.

Embora haja certa heterogeneidade entre as muitas escolas médicas brasileiras, poucas se adequam integralmente às recomendações internacionais e, no conjunto, estamos ainda longe do que vem sendo praticado em outros países, sobretudo o Reino Unido, Holanda, Canadá e Estados Unidos da América.

 

    

 

                           12/junho/2015