crônica_discurso do Prof. Dr. Heitor
DISCURSO DO PROF. HEITOR ROSA
(Proferido em 29 de março de 1985, quando a Congregação
da Faculdade de Medicina da UFG prestou homenagem ao
primeiro diretor, Francisco Ludovico, pela sua aposentadoria).
Meu querido Francisco Ludovico!
O sentimentalismo avisou-me que não deveria saudá-lo de improviso, o que dignifica o sentimento espontâneo, sob pena de ver-me presa de emoções que poderiam impedir-me de levar ao fim esta honrosa tarefa.
Meus Senhores! A história registra inúmeros exemplos de grandes personalidades que só tiveram suas obras reconhecidas após suas mortes. Nada pior do que o reconhecimento póstumo, pois, além de não interessar ao homenageado, atesta a pouca visão dos seus contemporâneos. Felizmente, a história de nossa Universidade vai registrar que os coetâneos de Francisco Ludovico souberam enxergar a grandeza de sua obra e a reconheceram publicamente. Por isso, a importância desta solenidade só foi ultrapassada pelo início da história desta casa, isto é, pela inauguração da Faculdade de Medicina no dia 24 de abril de 1960, quando nas escadarias do antigo pavilhão de Histologia celebrou-se a missa em ação de graças por um sonho tornado realidade.
O evento de hoje nos é trazido pela impossibilidade de lançarmos âncora ao tempo que corre pelo cumprimento da lei, que exige que o guerreiro descanse, sem, entretanto, recompensá-lo dignamente.
A aposentadoria de Francisco Ludovico representa bem mais do que um evento que carinhosamente lamentamos. Significa, antes de tudo, o atestado de maioridade de sua filha dileta. Hoje, fecha-se um ciclo da nossa história, que começou com um ideal, que depois se concretizou que teve sua infância adolesceu e agora torna-se adulto. Este ciclo compreende duas gerações: a daqueles que o iniciaram e conduziram até que a instituição amadurecesse; e a daqueles que, filhos destas entranhas, honram-se por serem seus novos seguidores e condutores.
Olhemos para o passado, para o presente e para o futuro. Vários companheiros tombaram pelo caminho, carregado as pedras deste edifício, como Ismar Dutra, Gilvan Dutra, Antonio Campos, Enzo Nesci, Rubens Moraes, Edvar Santana, Giovanni Cysneiros, José Salum, Wassily Chuc, Jonas Aiube. Como esquecê-los? Todos eles ajudaram a moldar o sadio orgulho que temos de nossa curta história de 25 anos. Várias feridas nos foram abertas nesse período, provocadas pelas setas disparadas pelos que não nos compreendem ou não nos conhecem. A chamada Revolução de 1964 deixou um grande saldo de vítimas nesta Casa e dentre elas o nosso homenageado. Em passado recente, a ignomínia dos senhores de gabinete chamava-nos de “um antro de desocupados”. Mas as injustiças não têm mais o poder de abalar os alicerces que Francisco Ludovico fundou. Que pena, Francisco Ludovico, que você não venha participar conosco, aqui na Universidade, deste novo tempo de esperança, de democracia e, se Deus quiser, de respeito à dignidade do professor e da ciência.
Se no nosso curto passado nos orgulha, o presente mostra os frutos do nosso trabalho. O respeito nacional e internacional que conquistamos entre nosso trabalho. O respeito nacional e internacional que conquistamos entre nossos pares faz-nos confiantes naquilo que temos feito e nosso futuro. Hoje, esta Faculdade produz os seus próprios professores, chefes e diretores, num processo de retroalimentação docente-administrativo ativo e competente. A pesquisa tem se tornado mais volumosa e a produção do conhecimento, em algumas áreas, alimenta programa teórico e prático. Para citar um exemplo destas atividades, no ano de 1984 foram indexadas 49 pesquisas experimentais e aplicadas só no Departamento de Clínica Médica.Vários municípios deste Estado, antes sem médicos, já contam com profissionais fornecidos por esta Escola; os organismos oficiais de Saúde são dirigidos e planejados por egressos desta Casa. Isto tudo significa que o impacto da criação da Faculdade de Medicina em Goiás está a merecer um estudo longitudinal e horizontal. Os benefícios sociais e científicos que a implantação da Faculdade trouxe ao Estado de Goiás e a sua influência na região Centro-Oeste merecem atenção, consideração e um estudo sério.
Enfim, Francisco Ludovico, sua árvore frutificou, e você já pode descansar à sua sombra. Poucos tiveram este destino; poucos fizeram uma façanha como esta; poucos obstinaram-se em realizar um sonho, sem proveito pessoal, para favorecer uma região inteira; poucos são os Franciscos Ludovicos da vida...
Obedecendo à sua história, a Faculdade de Medicina da USP denominou “a Casa de Arnaldo”, seu fundador. Quero, perante esta Congregação presidida pela Magnífica Reitora, obedecendo à justiça histórica e ao julgamento do coração, propor-lhes que esta Casa tenha como epíteto A Casa de Francisco.
Meu caro Francisco Ludovico! Em nome dos que aqui ficam, professores, alunos e funcionários; em nome dos pacientes que aqui buscam a saúde, na maior obra de extensão desta Universidade; em nome do nosso País e dos nossos filhos,
OBRIGADO!